Estranha confissão: um drama na caça, do escritor russo Anton Tchekhov, foi o primeiro livro que li da minha lista de 12 leituras da meta literária de 2016. E fiquei muito feliz por ter escolhido este livro!
A novela precursora do romance policial com fundo psicológico foi publicada pela primeira vez em folhetins entre 1884 e 1885. A história narra as memórias do juiz de instrução Sérgio Petrovich Zinoviev. Contada em 1ª pessoa, a narrativa descreve o momento de vida do juiz quando o conde Alexey Karnieiev regressa ao distrito após uma longa viagem. Muitas pessoas da cidade não enxergam o conde com bons olhos, pois ele leva uma vida desregrada, com muitas festas, bebidas e mulheres dos bordéis próximos à sua linda residência. Sempre que Sérgio vai visitá-lo, acaba se empolgando e passa dias passeando pelos jardins e terras do conde e noites bebendo em sua companhia. Numa dessas festas, num dia de caça, acontece um assassinato, e o juiz de instrução terá que interrogar os próprios colegas de bebedeira, mesmo tendo seus próprios interesses em conflito com o rumo da investigação.
Estranha confissão: um drama na caça é uma obra repleta de descrições dos costumes da sociedade da época, e da inquietação de sentimentos dos personagens, mostrando suas fraquezas e paixões. Apesar de o autor nos fornecer as pistas que nos levarão à conclusão e descoberta do assassino antes do final do livro, isso não diminui a importância da obra. Aliás, acredito ter sido essa a intenção do escritor. E devemos lembrar também que Tchekhov foi o escritor que criou, através dessa novela, as complicações para o gênero policial e que depois foram utilizadas por Agatha Christie, Graham Greene, entre outros.
Não existe nenhuma novela em que a porteira do jardim não desempenhe um papel importante. Se vocês ainda não perceberam isso, perguntem a Policarpo, que em sua vida já devorou tantas novelas, de terror ou não, e ele seguramente lhes confirmará essa característica.
Minha novela também não dispensa uma porteira. Mas esta se diferenciará das outras no sentido de que minha pena, ao contrário do que ocorre em outras novelas, deverá fazer passar por ela muita desgraça e pouca alegria. E o pior é que eu não a descreverei como um novelista, mas sim como um juiz de instrução. Essa porteira será atravessada mais por criminosos do que por apaixonados. (p. 34)
Recomendo a leitura de Estranha confissão: um drama na caça a todos que gostam de um bom romance policial. É um imenso aprendizado e prazer ver e sentir a partir de qual momento a literatura policial passou por essa transformação.
- Título original: Extraña Confesión – un drama en la cacería (em espanhol) – A edição que li foi baseada na obra organizada por Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares para a coleção El séptimo círculo publicada pela editora Emecé na Argentina em 1945.
- Editora: Planeta
- Número de páginas: 246
- Ano: 2005
- Gênero: Romance policial
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